quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Viagens na minha Terra: Jardim Botânico

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Boa noite,





Novamente após uma ausência forçada, regresso com uma nova rubrica... Viagens na minha Terra... Além da evidente inspiração no poeta do Romantismo português, pretendo mostrar sítios cuja beleza ou simplicidade podem proporcionar passeios agradáveis ou grandes sessões fotográficas artísticas, para aqueles mais exuberantes... Afinal Portugal está recheado de lugares mágicos e belos que podem criar o cenário ideal para expandir as nossas fantasias... Mas também há lugares insuspeitos que se adequam a pequeno mimos artísticos e extrovertidos...

Hoje fico pelo primeiro lugar em Lisboa onde fiz a primeira sessão de mania e vaidade da minha existência alternativa.


Para vocês: Jardim Botânico





"O Jardim Botânico da Universidade de Lisboa é um jardim científico, projectado em meados do século XIX. Começado a plantar em 1873, por iniciativa dos professores Conde de Ficalho e Andrade Corvo, acabou por ser inaugurado em 1878. Foi desde logo considerado um moderno e útil complemento para o ensino e investigação botânicas na Escola Politécnica, escola símbolo dos novos rumos de progresso social e científico que a revolução liberal trouxe a Portugal.

O local escolhido no Monte Olivete para a implantação do novo jardim tinha já mais de dois séculos de tradição no estudo da Botânica, iniciado desde o colégio jesuíta da Cotovia aqui sediado, com o seu Horto Botânico.

A enorme diversidade de plantas recolhidas pelos seus primeiros jardineiros, o alemão E. Goeze e o francês J. Daveau, provenientes dos quatro cantos do mundo em que havia territórios sob soberania portuguesa, patenteava a importância da potência colonial que Portugal então representava, mas que na Europa não passava de uma nação pequena e marginal.

A elevada qualidade do projecto, bem ajustado ao sítio e ao ameno clima de Lisboa, cedo foi comprovada. Mal acabadas de plantar, segundo o caprichoso desenho das veredas, canteiros e socalcos, interligados por lagos e cascatas, as jovens plantas rapidamente prosperavam, ocupando todo o espaço e deixando logo adivinhar como, com o tempo, a cidade viria a ganhar o seu mais aprazível espaço verde e o de maior interesse cénico e botânico. Em pleno coração de Lisboa e em forte contraste com o seu bulício, as cores e as sombras, os cheiros e os sons do Jardim da Politécnica dão recolhimento e deleite. E, tratando-se de um jardim botânico, outras funções desempenha o Jardim, que não apenas as de lazer e recreio passivo.

As colecções sistemáticas servem vários ramos da investigação botânica, demonstram junto do público e das escolas a grande diversidade de formas vegetais e múltiplos processos ecológicos, ao mesmo tempo que representam um meio importante e efectivo na conservação de plantas ameaçadas de extinção.

Algumas colecções merecem menção especial. A notável diversidade de palmeiras, vindas de todos os continentes, confere inesperado cunho tropical a diversas localizações do Jardim. As cicadáceas são um dos ex-libris do Jardim. Autênticos fósseis vivos, representam floras antigas, que na maioria se extinguiram. Hoje, são todas de grande raridade, havendo certas espécies que só em jardins botânicos se conservam. O Jardim é particularmente rico em espécies tropicais originárias da Nova Zelândia, Austrália, China, Japão e América do Sul, o que atesta a amenidade do clima de Lisboa e as peculariedades dos microclimas criados neste Jardim.
 Na esteira do que acontece na generalidade dos jardins botânicos, também este Jardim, em estreita colaboração com os restantes museus da Politécnica desenvolve, em permanência, activos programas de educação ambiental, para os diferentes níveis etários da população estudantil e oferece visitas temáticas guiadas."




Neste lugar, relativamente pequeno e rodeado de cidade, ouvem-se os pássaros, como se não houvesse toda uma vida urbana por trás dos muros do jardim... Podemos até espreitar as casas que ladeam com as heras que crescem no solo interior, já ausentes de ocupação humana...



Dos muitos recantos deste espaço, sobem e descem, serpenteando por entre a vegetação luxuriosa, escadas e degraus, mais ou menos uniformes, em empedrado de calçada ou feitos de lages de pedra compacta... Que sobem ao céu ou descem ao inferno, consoante o ponto de vista...





E o verde pode ser élfico em alguns lugares, com pequenas pontes de metal que sobrevoam lagos vazios cheios de folhas de Outono, formando uma paisagem de esmeralda e ouro... Tudo num recanto de Lisboa...





Além de todo o potencial fotográfico, o jardim em si é muito agradável, tem "dois pisos". Em cima, um jardim arranjado com sebes e fontes, cameleiras e roseiras, que desperta os sentidos pela tristeza da manutenção do local... Está velho e desajeitado, mas a inspiração não escolhe apenas os lugares perfeitamente simétricos ou gloriosos...



E por entre tudo isto, um lago que está cheio de vida, carpas, cágados e patos e patinhos... Não se pode aceder, mas é bonito de admirar e, às vezes, os seus habitantes até posam para nós...



E novamente, no "piso de baixo", pequenos momentos de ascensão espiritual... Os caminhos vão-se retorcendo e brilham com o sol, por entre as ramagens do bambu. Um pequeno trilho chinês...



Contudo, nem tudo são rosas e a melancolia do piso de entrada regressa, nesta casa abandonada, onde os cientistas já estudaram o tempo, estuda o tempo agora a resistência das construções humanas... É o desalento das ciências que mora aqui, neste Portugal cheio de doutores que não têm como manter as suas pesquisas a funcionar... E fica assim, com ar antigo e triste, um edifício do final do século XIX, que guarda as memórias do início da cultura neste lugar à beira-mar plantado...





Mas, com as suas subidas e descidas, o Jardim Botânico consegue surpreender pela positiva o visitante atento, criando pequenas estradas para a iluminação...



Mas também há espaço para as artes. Fora a minha pessoa que perturba a obra de um artista do qual desconheço o nome, estas são as ruínas de uma civilização imaginada por alguém, que nasceu e morreu aqui entre os muros de um jardim de coleccionador... metáfora das civilizações arrogantes que não conhecem para além do seu próprio umbigo, consumindo-se amargas e sozinhas, confinadas ao seu conceito de mundo...



Mas, eis que surge nova vida no jardim adormecido... Um projecto novo e frágil, como as asas dos seus elementos... Uma estufa de borboletas espera os que passam, convidando com as suas enormes monarcas a entrar no reino dos insectos...



É uma visita que vale a pena, por curiosidade ou para relembrar... Mas, apesar dos pequenos lugares de magia, não se pode esperar muito de um local quase votado ao abandono, sem recursos para manter a esplendorosa flora que foi armazenando... Nosso destino que mesmo no centro de Lisboa, os monumentos e espaços morram, definhando aos poucos sob a indiferença de todos os que passam aos seus portões sem nunca lá entrar...

1 comentário:

Kátia Mendes disse...

Realmente quem passa perto nao sabe a beleza que se esconde no Jardim.
Adorei as fotos. Estao fantasticas.
Por acaso nao tens deviantArt?
Bjs e bom fim de semana