Boa noite,
Este fim-de-semana se calhar não temos actualizações, por isso, para já, vão ter que se contentar com a carta de hoje:
A Ilusão (The Illusion)
A Ilusão é uma carta com um temperamento marcadamente agressivo,
embora não se conheçam os motivos dessa tendência, a verdade é que a nível
simbólico ela poderá estar justificada (mais em baixo vamos lá). O Poder desta
carta consiste na criação de ilusões baseadas naquilo que o seu interlocutor
deseja ou espera ver, isto significa que mesmo perante várias pessoas, a forma
d’A Ilusão não será a mesma e cada pessoa verá algo diferente, como se a ilusão
apenas tomasse uma forma significante concreta já na mente da pessoa que a vê.
A Ilusão, apesar de dotada desta habilidade de mudar de forma, não
possuí uma aparência física concreta e quando transita entre duas formas-ilusão
toma o aspecto de um vulto com um padrão caleidoscópico. Discute-se se este
vulto será efectivamente a forma física d’A Ilusão ou se será apenas uma
manifestação visível do processo de transformação de uma ilusão na seguinte.
Durante o anime e a manga, A Ilusão tentar, pelo menos aparentemente,
matar a Sakura, o que faz com que esta carta seja, além de temperamental,
efectivamente perigosa, se deixada sem controlo.
De acordo com as instruções que vêm com as cartas de Clow, A Ilusão
diz-nos que existe em nós um desejo de fugir da realidade.
A mensagem desta carta indica que há uma tendência para apenas ver a
superfície das coisas, ignorando os seus significados mais profundos ou a
realidade dos factos. Tendência para viver numa ilusão, o que pode trazer
bastantes dissabores. É preciso entender que a sensação de permanência e
imutabilidade são ilusórias e que perante uma mudança é necessário reagir e
adaptar a nossa vida e personalidade ao novo ambiente. Como se diz “os
cemitérios estão cheios de pessoas insubstituíveis”, por isso é preciso não nos
deixarmos convencer por uma falsa sensação de segurança e saber navegar ao
sabor da maré, em vez de nos mantermos infinitamente remando contra uma
corrente que só do nosso ponto de vista viciado é que levará a bom porto.
A Ilusão aconselha que se experimentem coisas novas, poderão não ter
tão difíceis como parecem.
Dentro de um baralho de jogo normal, esta carta é substituída pelo 4
de Copas (atenção: no tarot o naipe Copas não é em forma de coração, mas sim em
forma de cálice).
Além da organização correspondente ao baralho de jogo comum, as cartas
de Clow/Sakura têm uma organização interna sujeita a 6 elementos tipo que
formam o grupo principal: A luz (The Light), A Escuridão (The Dark), O Fogo
(The Firey), A Água (The Watery), O Ar (The Windy) e A Terra (The Earthy) –
Nota: a tradução para português foi deliberadamente feita para os tipos
elementais da espiritualidade ocidental, porque uma tradução mais literal
resultaria em cartas com nomes caricatos.
A carta A Ilusão está atribuída ao elemento agregador escuridão (ou,
mais poeticamente, trevas), o que pode justificar o seu temperamento agressivo.
Por outro lado, a atribuição a este elemento está mais próxima das suas
implicações negativas e do facto de ser a manifestação típica das figuras
embusteiras, que na mitologia se agregam aos deuses das trevas (Seth, Loki,
Satanás, por exemplo – nota: satanás foi aquilo usado como sinónimo de O Diabo,
enquanto figura do cristianismo católico moderno, contudo a palavra e a figura
de satanás alteram-se substancialmente quando mudamos de religião, tempo cronológico
e espaço geográfico).
Do pondo de vista simbólico, a ilusão surge como produto da figura do
embusteiro, aquela que cria ilusões. É uma figura que gira em torna da
fronteira entre o consciente e o inconsciente, onde a mistura de luz e sombra
criam ilusões. A ilusão resulta dos truques sofridos pela mente consciente
através de conteúdos que escapam do inconsciente e alteram a nossa percepção da
realidade; o criador dessas ilusões, o embusteiro, é a personificação desse
processo mental. O embusteiro pode ser um mensageiro da intuição, sugerindo
através das suas ilusões, novas aproximações ao problema, assim como se
relaciona com a função inferior do pensamento, primitiva, mas astuciosa, que
está mais próxima dos limites do inconsciente e, por isso, com ele comunica.
O embusteiro, assim como as ilusões que cria, é uma figura ambígua,
que encarna e concilia em si dois lados em oposição, é um conceito de
conciliação e de transformação de energias, muitas vezes atrapalhando os nossos
processos mentais, para que tropecem em soluções desconhecidas. O embusteiro é
a raposa ou a lebre, nas suas versões mais pacíficas. É o feiticeiro e o
mágico, nas suas versões eruditas e que possibilitam um acesso ao conhecimento.
Contudo, o embusteiro pode também ser o diabo e os deuses antigos que
representam quer tendências mais negativas de inversão de valores, quer a
camada mais arcaica e obscura da mente onde o processo lógico tantas vezes
falha quando deparado com as incongruências de um pensamento mais primitivo e
próximo da natureza (que por ser primitivo comunica através de símbolos e
alegorias, e não através de raciocínios).
Fontes: Cardcaptor Sakura Wiki; tradução das instruções do baralho de
Clow; Dicionário dos Símbolos, de Tom Chetwynd.
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